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apego, compromissos, posse & onde cabe a mudança

erikarnovais4

ao longo de muitos atendimentos tenho observado uma questão que é essencialmente dolorida para quem está numa transição de carreira.


COMO MUDAR AGORA se já investi tanto tempo nesse emprego? Ou nessa empresa? Ou nessa carreira? Ou nessa formação técnica?


por que parar agora?


e o tempo, a energia e o dinheiro investidos?


nesse momento de dúvida aparece uma espécie de pensamento de “consolação” imediata que nos tira desse estado de inquietação: “se continuar tentando farei isso dar certo, é só um momento, uma fase. Isso vai passar”.


essa dualidade de pensamento nos atravessa, toma posse e assim permanecemos muito tempo na dúvida, que muitas vezes está atrelada a uma resistência e à cultura externa do apego que internalizamos.


Sabe o balde de merda quentinha? conheço ele bem...


combater a mente com a mente, isso não rola. e penso que já sabemos disso também, certo?


mas e se pensarmos e nos situando no presente podemos fazer a pergunta de uma maneira inversa:

se eu já não tivesse investido tempo de vida nesse (a) emprego, ou nessa empresa, ou nessa carreira, ou nessa formação técnica, quanto tempo de vida eu ainda investiria nele(a)?


o que eu poderia fazer com esse tempo e o dinheiro gastos se pulasse fora agora?


nos sentindo “donos” ou “possuidores” daquilo que temos no momento, a pergunta correta seria “que valor eu dou a esse ‘item’? se eu não possuísse (por exemplo, essa formação técnica) quanto pagaria por ela agora?”


que tal?


que tal parar agora, reduzir as perdas e seguir, em vez de se torturar e seguir tentando?


a hora certa de fazer isso?


não tem hora mágica;

não tem momento certo;

não existe o momento de mercado.


muitas vezes temos uma sensação errônea de posse, que o inglês Greg McKeown chama de “efeito dotação” no livro Essencialismo: a disciplinada busca por menos (leitura que indico e que me inspirou a escrever esse texto), sobre a tendência de subestimar o que não é nosso e supervalorizar o que já possuímos.


lembro de um ex-namorado que era apegado ao seu carro e tinha feito enormes mudanças nele ao longo do tempo, colocou rodas novas, reformou o estofado, colou símbolos com corzinhas diferentes na lataria etc. quando ele fez a cotação para vender, o cara da concessionária não deu a menor importância e ainda disse que o carro valia o preço de mercado, não importava o que tinha de “fru fru”...


a frustração e a decepção foram grandes, lembro das suas reclamações.


entendo que o mero fato de nos sentirmos donos de algo nos leva a atribuir mais valor a esse “algo” e nos torna menos dispostos a nos separarmos dele.


fazemos isso com a carreira, o emprego, a formação técnica, até mesmo com a relação amorosa, muitas vezes, mas o papo aqui é sobre carreira...


e se conseguirmos olhar sem ego e admitirmos o fracasso em prol de termos sucesso?


temos também uma dificuldade grande em admitir fracassos.


e, muitas vezes, nem é um fracasso, é algo que já passou, não mexe mais no 'core'.


sabe aquele motorista (antes do Waze) que errava o caminho, mas jamais pedia informação para não admitir que estava perdido? que desperdiçava tempo e energia dando voltas e mais voltas sem chegar a lugar nenhum?


fazemos isso com a vida: a desperdiçamos quando nos prendemos a algo que não nos serve mais e não admitimos.


agora, pense aí com você: tem alguma coisa no seu trabalho ou na sua carreira que está assim?


por que não paramos de tentar forçar um encaixe? quantas vezes na vida me peguei fazendo muito esforço para ser o que eu não sou...


um caminho? o que fazer nessa dualidade que não me larga?


podemos buscar uma segunda opinião, de alguém que temos certeza que nos ama e é NEUTRO na situação... sabe aquela pessoa que realmente te conhece e que pode ouvir sua alma quando você está colocando suas dúvidas para fora? por exemplo, um amigo próximo ou alguém em quem você confia e que não tem um envolvimento emocional com a sua decisão.


às vezes, a opinião da mãe, da irmã, do maridão não vale, porque eles podem ser os próprios impulsionadores dessas crenças ou estarem envolvidos material ou emocionalmente nessa sua questão.


um outro movimento que também nos impede de olhar para essas questões é o de assumir mais e mais compromissos e nos enrolarmos a tal ponto na vida que NUNCA ENCONTRAMOS O FAMOSO TEMPO, por exemplo, para fazer o que precisa ser feito para mudarmos.


e aí dizemos que não temos tempo para olhar para a carreira, buscar um novo trabalho.


e colocamos a culpa no tempo, porque assim fica mais fácil mesmo.


diga para mim: qual tem sido a sua desculpa?




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